canto gregoriano

O que é o canto gregoriano?

autor: Pacífico Guimarães Filho

É o canto próprio e principal da Igreja Católica Apostólica Romana. Consiste das melodias preservadas nos livros aprovados pela Santa Sé e propostas para a execução dos TEXTOS rituais, melodias, essas às vezes obrigatórias, outras vezes como preferenciais e suficientes para a liturgia, isto é, para oculto público da Igreja, nas suas assembleias litúrgicas.

Por conseguinte, o canto gregoriano autêntico é aquele que consta das edições típicas vaticanas, ou foi aprovado para alguma igreja particular ou família religiosa, pela Sagrada Congregação dos Ritos, da Cúria Romana.

O canto gregoriano é sempre adequado à celebração litúrgica e tem, em igualdade de condições, preferência sobre qualquer outra música sacra. Isto porque possui, por excelência, as qualidades próprias da música sacra, que são: santidade, valor artístico e universalidade.

Um dos sinais mais notáveis do canto gregoriano é a união perfeita da melodia com a PALAVRA, isto é, a melodia está a serviço de um texto canônico que pertence ao rito celebrado. Esta simbiose melódico-literária desvenda-lhe o segredo da composição e proporciona o mais seguro princípio para sua análise. Rezar o texto e cantá-lo constituem um só e mesmo ato. É o ideal de todo canto ritual.

Não são a voz humana e as melodias que devem ser escutadas e saboreadas, mas a PALAVRA divina, a qual deve encontraro caminho de acesso ao coração através da música.

No gregoriano a música é verdadeiramente adequada a cada situação litúrgica, tanto no que diz respeito à forma musical, como à execução por parte dos diversos cantores e da comunidade inteira. Assim, por exemplo, as antífonas dos salmos da Liturgia das Horas se caracterizam por uma grande simplicidade, e os introitos das missas por pequenos ornamentos, ao passo que os responsórios e os aleluias se distinguem muito claramente dos demais cânticos por longos melismas (modulações).

As palavras cantadas em latim não são apenas a língua do mundo da cultura romana. Não podemos esquecer que, através dos séculos, a língua latina foi enriquecida pela grande corrente da história da Igreja. Portanto, é menos uma língua do passado, de que a expressão de uma experiência espiritual profunda de tradutores, grandes poetas e musicistas. Desde modo, numerosos textos bíblicos – na maioria salmos, mas não exclusivamente – tornaram-se um alimento espiritual cantado do povo cristão.

A Bíblia cantada foi, ao mesmo tempo, meditada e vivida nas situações das diversas épocas. Foi recriada na oração litúrgica e, desta forma, o texto latino recebeu uma dignidade e um significado que superam de muito o aspecto puramente literário.

Ao ser utilizada na comunidade de fiéis, a Bíblia cantada recebe uma eficácia que, de outra forma, não possui. E esta linguagem não pode ser conseguida por meios meramente filológicos e gramaticais.

Histórico

O canto gregoriano tem raízes nos cantos das antigas sinagogas, desde os tempos de Jesus. Os primeiros cristãos, desde os apóstolos e discípulos de Jesus, foram judeus convertidos que, perseverantes na oração, continuaram a cantar os salmos e cânticos do Antigo Testamento como estavam acostumados, embora com outro sentido. À medida que os não-judeus do mundo greco-romano foram também se tornando cristãos, elementos da música grega foram sendo acrescentados às cantilações judaicas.

1 - O período de formação do canto gregoriano vai dos séculos I ao VII. Muitas etapas foram percorridas desde os inícios do canto litúrgico da Igreja latina (não nos esqueçamos que São Pedro e São Paulo morreram mártires em Roma) passando do Oriente Médio à Europa e à África cristã, até alcançar sua forma plena e madura durante o século VIII na França achegar até nós.

2 - O período de difusão vai dos séculos VIII ao XII.

A Schola Cantorum Romana foi fundada por São Gregório Magno, papa, assim como o Antifonário cuidadosamente compilado sob o seu patrocínio, não podiam ficar confinados nas basílicas de Roma. Percorrem a Itália e, atravessando a Gália e a Germânia chegam até à Inglaterra com os missionários beneditinos. Com a influência de Carlos Magno triunfou em todo o império a implantação da liturgia gregoriana.

O nome de “gregoriano” dado ao canto romano apareceu no século IX. Quiseram prestigiá-lo com a autoridade ligada ao nome do papa. Mais tarde, porém, continuaram a ser chamado de “canto eclesiástico” e depois de “cantochão”. A restauração do fim do século XIX retomou e consagrou o termo “canto gregoriano”.

3 - O período da decadência vai dos séculos XII a XIX.

Surge a genial invenção das linhas com claves (pautas) e continuam-se compondo melodias com inspiração, sim, mas sem aquele frescor e naturalidade das composições anteriores.

Surge a tendência de abreviar os melismas, inclusive também por São Bernardo.

Mas a decadência acentua-se com a irrupção, nas igrejas, da música com compassos. No século XIV aparece a Ars Nova.O papa João XXII teve de protestar: “Embriagam os ouvidos e não curam as almas...a devoção fica esquecida...”.

4 - O período de restauração é dos séculos XIX e XX.

Depois de seis séculos de progressiva decadência, no sentido da dessacralização, o canto sacro da Igreja romana renasce.

Das ruínas da Revolução Francesa dom Prósper Guéranger, morto em 1875, restaura a Ordem de São Bento, na França, começando com a Abadia de São Pedro de Solesmes (Sablé sur Sarthe, França).

Recomeçou ali os cânticos gregorianos, assim como o seu estudo e pesquisa no sentido de encontrar a execução e interpretação autênticas.

Os monges de Solesmes recorrem aos manuscritos antigos e desenvolvem a paleografia musical, estabelecendo a semiologia da notação gregoriana. Várias publicações importantes foram feitas, destacando-se o Antifonário Monástico e o Gradual, ambos utilizados hoje em todos os mosteiros beneditinos.

Devemos mencionar, ainda, a atuação do Instituto Gregoriano de Paris que segue as normas solesmenses, além do Instituto Pontifício de Música Sacra, de Roma.

Bibliografia consultada:

PRADO, German, OSB. – El Canto Gregoriano. Barcelona, Editorial Labor, 1945. 195p. ilus. (Colección Labor, Sección V: Música, nº 419).

GELINEAU, Joseph, S.J. – Canto e música no culto cristão: princípios, leis e aplicações. Traduzido por M. Luíza J. de Amarante. Petrópolis, Vozes, 1968. 303 p. Título original: Chant et musique dans le culte crétien. Ed. Fleurus, 1962.

BAROFFIO, Bonifácio Jacob, Abade OSB. O canto coral gregoriano no campo das tensões entre o evento musical e a expressão de fé vivida. Liturgia e vida nº 222, pp. 14-23.